Os museus são um fenómeno
característico dos tempos modernos. Embora muitos deles - e mesmo os mais
importantes - se tenham formado a partir de colecções previamente existentes,
os museus propriamente ditos são uma consequência das novas ideias sobre a
educação elaboradas sob a influência do iluminismo. O museu apresentava-se
então como um importante instrumento da educação popular.
Por volta de 1860, Ruskin
defendia, perante o parlamento inglês, a necessidade de aproximar cada vez mais
o Museu das massas operárias, e desse princípio resultaria a criação de alguns
museus em centros urbanos de menor importância.
Foi este mesmo
espírito que levou à fundação do Museu de Viana do Castelo, numa altura em que
existiam em Portugal cerca de vinte museus. A criação do Museu de Viana,
com efeito, foi decidida numa sessão da Câmara realizada em 9 de Maio de 1888.
Teve o seu núcleo inicial no claustro do antigo convento de Santo António, onde
se reuniam algumas lápides e brasões resultantes de algumas demolições
efectuadas na cidade.
Em 1920 a Câmara
decidiu adquirir, para instalar o Museu, o palacete Barbosa Maciel, elegante
construção, edificada entre 1724 e 1728, segundo projecto do arquitecto
bracarense Manuel Fernandes da Silva, um dos mais belos edifícios da cidade e
dos que mais próximos se conservam das origens, nos seus interiores.
Em 1953 Manuel
Espregueira e Oliveira doou ao Museu uma colecção excepcional de peças
artísticas, sobretudo de faianças, na maior parte reunidas pelo seu pai, o
extraordinário coleccionador vianês Dr. Luís Augusto de Oliveira.
Com essa doação e a
aquisição aos herdeiros do professor Serafim Neves de um valioso conjunto de
louças, o Museu de Viana ficou a possuir a melhor e mais variada colecção de
faianças portuguesas.
Já então se
notava a insuficiência das instalações.
De 1964 data a
disposição que o mesmo apresentou durante algumas décadas, em cuja organização
foi considerado "como objectivo fundamental adaptar a natureza dos
espécimes ao solarengo carácter do edifício". Esta ordenação, de natureza
ornamental, não se preocupava com a função pedagógica do Museu.
Quando na
década de oitenta se começou a pensar na sua valorização didáctica, logo veio
ao de cima o problema de espaço.
Em 1982, o
responsável pela Direcção do Museu, a concluir uma síntese da sua história
publicada na revista cultural publicada pela Câmara Municipal de Viana do
Castelo, os Cadernos Vianenses, dizia esperar-se que "na altura
oportuna, a Câmara faça elaborar o anteprojecto para a construção de um
edifício na frente da Rua General Luís do Rego, para extensão do Museu, a
ligar, por uma galeria, ao palacete Barbosa Maciel".
Estava-se
numa época diferente daquela em que o Museu foi criado. O Museu dos tempos
modernos, tal como o imaginou Alexandre Dorner, não podia acomodar-se
simplesmente a uma arquitectura tradicional de cariz hierático, mas exigia
ambientes adaptados aos diversos objectos, capazes de serem modificados e
ajustados com facilidade.
Sem ocultar o valor
histórico do edifício e até valorizando-o, a exposição permanente necessitava
de ser reordenada, e impunha-se a urgência de criar novos espaços para o
funcionamento dos vários serviços de apoio (já que até aí todos os espaços
estavam ocupados com a exposição permanente), para as exposições temporárias e
para outras actividades paralelas, de animação cultural.
Foi para essa obra
de ampliação que em 1988 - quando o Museu fazia 100 anos - a Câmara Municipal
de Viana decidiu encomendar o projecto ao Arquitecto Luís Teles e, em 1990,
proceder à sua concretização.
Com as obras de
ampliação pretendia-se criar as necessárias condições de trabalho e
rentabilização pedagógica. O novo Museu, que integrava o edifício antigo, com a
entrada principal pelo Largo de S. Domingos, e a ampliação, com entrada pela
Rua General Luís do Rego, apresentava-se como um todo coerente, composto de
partes com funções específicas.
Fachada e entrada da ala nova do edifício do Museu
No edifício antigo
continuava a situar-se a área de exposição permanente, prevendo-se que no
primeiro piso se reconstituíssem os ambientes so séc. XVIII, característicos de
uma residência nobre urbana, enquanto no rés-do-chão, onde historicamente se
localizavam os armazéns e arrecadações, se disporiam, em sequência didáctica,
as colecções que englobavam maior número de peças, designadamente algumas que
são únicas em todo o mundo, como a série de louça azul portuguesa, do séc.
XVII, e a de faiança de Viana, dos séculos XVIII e XIX.
No novo sector,
resultante da ampliação, localizavam-se, no rés-do-chão, a área de exposições
temporárias de curta duração e os gabinetes de trabalho (direcção,
secretariado, informática, centro de documentação e biblioteca). No primeiro
andar estendia-se uma galeria destinada às exposições temporárias, de duração
intermédia, assim como um auditório com os respectivos serviços de apoio. Na
cave situavam-se os depósitos e as oficinas.
Com a inauguração destas
obras, o Museu reunia as condições mínimas para desempenhar as funções que lhe
competiam, segundo as mais recentes orientações da museologia, como centro
produtor e irradiador de cultura.
As perspectivas eram as
melhores, se os planos traçados em relação ao seu desenvolvimento futuro
pudessem ser concretizados. Veremos o que aconteceu de seguida.